Como eu aprendi inglês lendo Harry Potter
Não é novidade para quem me conhece que eu tenho uma paixão imensa por Harry Potter. Imensa ao ponto de ter várias edições dos livros (em inglês e português), todos os filmes, tatuagens, canecas, entre outros milhares de objetos. Mas o que muitas pessoas não sabem é o quanto a história escrita pela britânica J.K. Rowling transformou a minha vida para sempre e moldou o meu futuro de uma forma irreversível. Afinal, foi a partir daí que comecei a ter mais contato com a língua e de onde surgiu minha vontade de me tornar professora de inglês.
Quando eu tinha quase 11 anos fui a biblioteca da escola, como todas as semanas, pegar um livro para ler (era regra na nossa escola essa visita à biblioteca). Como sempre, eu não me sentia inspirada a escolher qualquer livro pois não era uma leitora ávida na época. É então que me deparo com a capa desse livro:
O nome me pareceu interessante e a sinopse da história também, então, resolvi arriscar e levar ele para casa. Mal sabia eu que eu estava a ponto de embarcar em um caminho sem volta: eu iria me tornar uma devoradora de livros. Quando eu terminei o livro percebi meu inocente erro: o livro era parte de uma saga e eu havia começado pelo segundo. Como o bichinho da história já tinha me picado, eu comecei a procurar pelo primeiro livro e foi quando eu descobri que o primeiro filme seria lançado em algumas semanas.
Jamais vou me esquecer daquelas semanas, elas foram intermináveis. O filme estreou logo após o meu aniversário de 11 anos e eu praticamente forcei meu pai a me levar no cinema. Depois que assisti ao filme, chorei lágrimas de crocodilo implorando para que meus pais me dessem o primeiro livro de presente pois considerava uma questão de vida ou morte! Entretanto, meu pai me disse que eu teria que esperar o natal. Não tentem imaginar, dear Fools, o quanto eu sofri achando que teria que esperar quase dois meses para ter o livro em minhas mãos. E qual foi a minha surpresa quando no dia seguinte ao que fomos no cinema eu encontrei um pacote em cima da minha cama? Até hoje considero o presente mais legal que já ganhei.
Agora tu deves estar se perguntando, “Mas Nanda, o que isso tem a ver com aprender inglês? Esses dois livros eram em inglês?” Não meu/minha pequeno/a bruxo/a, estes dois livros eram em Português. Entretanto, e aqui teremos o grande AHA! da história, eu li Harry Potter quando os livros ainda estavam sendo lançados e internet discada era a regra. Logo, o que isso significa? Os livros em inglês eram lançados muitos meses antes de a versão em português chegar ao Brasil, mas nem por isso existiam menos spoilers. Portanto, eu como boa ansiosa e hater de spoilers que sou, tomei vergonha na cara e resolvi que leria os livros em inglês mesmo sem saber batatas da língua (ou isso era o que eu acreditava).
Comecei a ler os livros em inglês a partir do quarto livro da saga, pela internet, pois meus pais só aceitaram comprar os livros em português já que as versões em inglês eram muitos mais caras. Eu imprimia páginas do livro e sentava em um canto da casa com aquelas páginas (geralmente um capítulo) e um dicionário.
Agora, é importante pontuar algo! Eu não traduzia palavra por palavra do que eu estava lendo. Primeiramente, eu tentava compreender o texto todo e só usava o dicionário quando alguma palavra tornava a compreensão da história difícil. E isso é algo fundamental quando estamos fazendo a leitura de um texto. Se tentamos traduzir palavra por palavra a compreensão será mais demorada e difícil.
Outro ponto fundamental desse exercício que fiz até o último livro da saga, que foi lançado quando eu tinha 17 anos, é que conforme o tempo foi passando eu fui precisando cada vez menos do dicionário até chegar ao ponto que eu apenas usava quando estava curiosa sobre algum termo ou palavra e não porque este me impedia de compreender o que eu estava lendo.
Durante meus anos de adolescência me tornei uma leitora faminta e fiz leituras tanto em português quanto em inglês sem jamais ter em mente que eu estava “estudando inglês” ou lendo para “aprender inglês”. Eu lia aqueles textos e livros porque eu queria e muitas vezes só tinha acesso a eles em inglês.
Qual a moral da história então? Quando eu entrei na faculdade de Letras eu tive que fazer uma entrevista com uma das professoras do curso para que elas pudessem verificar se com o meu nível de inglês eu poderia acompanhar as aulas ou se eu precisaria fazer um curso preparatório antes. Foi uma surpresa grata quando eu consegui não só entender o que a professora estava me falando e perguntando, mas também responder. O resultado da entrevista foi que não só eu estava apta para atender as aulas como eu pude pular o primeiro nível de inglês. Eu jamais havia feito aulas de inglês antes da universidade, apenas as da escola regular. Foi naquele momento que eu percebi que minha paixão por Harry Potter e leitura tinha me trazido frutos inesperados: eu aprendi uma outra língua fazendo o que eu mais amava e sem intenção nenhuma de aprender o idioma.
Finalmente, quero encerrar essa história dizendo que a leitura é uma das melhores formas de desenvolver o idioma. Não só ganhamos muito vocabulário, como internalizamos estruturas gramaticais, expressões idiomáticas e questões culturais. Mas falo da leitura significativa, aquela que fazemos porque precisamos ou porque queremos muito. Aquela que fazemos porque queremos compreender e não traduzir.
Espero que a minha história te inspire a ir atrás da leitura que faça com que tu te apaixones pelo idioma como foi o que aconteceu comigo. Aguardem próximos posts com resenhas de livros e indicações de leituras em inglês.